O crente não tem de ser
anti-ateu. Será que o ateu terá de ser anticrente? Sucede que a novidade hoje
já não é o ateísmo; é a atitude anti-religiosa. O que mais impressiona atualmente
não é haver quem não tenha fé; é haver quem hostilize quem pretende viver a fé
que tem.
O regresso da intolerância —
assinalado recentemente por Lídia Jorge — não é um exclusivo da religião. A
intolerância vai assumindo também uma feição cada vez mais anti-religiosa. No
ocidente, esta intolerância não é feita através de uma perseguição declarada.
Ela é tecida sobretudo através de condicionamentos e depreciações. Na hora que
passa, a religião não é abertamente combatida. Mas a sua expressão é
crescentemente limitada e teimosamente retorcida.
Polarizado o tempo em torno
do instante, o perene da mensagem tende a ser zurzido como retrógrado,
desfasado. As manifestações de fé são, muitas vezes, truncadas e distorcidas.
Há quem as apresente com um ar escarnecedor e zombeteiro. À semelhança dos
outros poderes, também o poder mediático não é favorável à religião. Em nome de
uma presumida neutralidade, opta-se geralmente por um silenciamento. Este é
pontualmente quebrado para expor aspectos marginais. Ou então — como tem
sucedido ultimamente — para explorar «ad nauseam» algumas fragilidades.
Acontece que, dada a sua
capacidade para influenciar, os «media» acabam por formatar a sensibilidade das
pessoas acerca da religião. São muitos os que validam a mais improvável
informação sem cuidar de conferir a respectiva veracidade.
Quem lê os documentos da
Igreja? Quando muito, lê-se o que é dito — e mostrado — sobre tais documentos. Sem
nos apercebermos, não debatemos o que dizem diretamente os Padres, os Bispos e
o Papa. Passamos o tempo a discutir o que sobre eles passa nos jornais, nas
televisões e nas redes sociais.
Dir-se-á que é a realidade,
a que temos de nos habituar. O problema é que aquilo que é veiculado parece
partir de arquétipos e preconceitos anti-religiosos. Quantas não são as vezes
em que temos de coar o que nos é transmitido, encaminhando os interlocutores
para o encontro com a realidade e com as fontes?
Mas há sempre quem tome uma
possibilidade como um facto consumado. E não falta sequer quem transforme uma
mera suspeita numa definitiva — e impiedosa — sentença. Acresce que nesta
intolerância quase ninguém repara. O direito de não crer é indiscutível. Mas
será que o dever de respeitar quem crê é menos sagrado?
Frei Francisco Bezerra do
Nascimento, OFMConv.
QUEM SE PREOCUPA COM A INTOLERÂNCIA ANTI-RELIGIOSA?
Reviewed by Francisco Nascimento
on
05:38
Rating:
Nenhum comentário: